A Primeira Escola da República – O Palácio Caetano De Campos
A tradicional Praça da República, no centro de São Paulo, abriga um dos mais importantes documentos culturais e arquitetônicos de todo o Estado. Um exemplo das tendências arquitetônicas do Brasil, o Palácio Caetano de Campos carrega uma rica história de ensino e tradição.
O edifício foi o primeiro prédio escolar do período republicano e foi construído por iniciativa do governo estadual e inaugurado em 1894, com aspecto nostálgico, palaciano e com ares de construção monumental.
A ideia de seus arquitetos era refletir a postura e a importância que o novo governo dispensava à educação e a formação de novos cidadãos. O projeto original do edifício é de autoria do arquiteto e então diretor da Escola Politécnica, Antonio Francisco de Paula Souza.
Contudo, anos depois, o projeto foi detalhado e construído sob a supervisão do “arquiteto de São Paulo”, Francisco de Paula Ramos de Azevedo.
Entre as principais alterações, podemos destacar que o projeto original tinha o desenho em forma de “U” e, depois de uma reforma realizada em 1895, onde as classes atenderiam a Escola Modelo Complemetar para alunos entre 11 e 14 anos, adquiriu a planta em formato da letra “E”. Em sua inauguração, o prédio tinha 86 metros de frente por 37 metros de profundidade.
O prédio passou por marcantes ampliações: em 1896 , com o acréscimo de salas nas pontas do “U”; outra em 1934 com o acréscimo do terceiro andar, terminada de 1936; em 1948 aconteceu a criação de alas perpendiculares à construção principal e o prolongamento destas em 2 corpos salientes que foram ampliados para abrigar mais 12 salas de aula e finalmente, em 1978, com a entrada da Secretaria da Educação, 2 estacionamentos no subsolo foram acrescentados, os banheiros foram divididos e floreiras foram colocadas nos pátios.
Em 1896, dois anos após a inauguração do prédio principal, foi construído um anexo independente, que seria o prolongamento da Av. São Luis, que era o prédio do Jardim da Infância (demolido no final dos anos 30, para dar lugar à avenida).
Compunha-se de quatro salas de aula, um grande salão octogonal para reuniões gerais e solenidades infantis, onde do lado externo podemos observar em fotos da época uma grande cúpula metálica, acima deste salão de 15 x 15 metros.
A planta do prédio principal foi projetada pensando na iluminação e na ventilação que se daria através das grandes janelas distribuídas pelos corredores.
Haveria uma ala feminina e outra masculina, no centro do “U”, na parte interna havia um grande salão, de forma arredondada, chamada de Orpheão, demolida para dar lugar ao auditório, inaugurado em 1941 e que permanece intacto até os dias de hoje.
O terceiro andar foi acrescentado devido à necessidade de espaço entre os anos de 1935 e 1949, já que a Escola Normal transformara-se em Instituto de Educação ligado à USP. Em seguida, foi criada a Seção de Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, antigos professores da Escola Normal, assim como professores estrangeiros contratados deram origem a este curso no prédio do Caetano de Campos.
Para a composição da fachada, os projetistas recorreram ao vocabulário de origem clássica, manipulando com a liberdade característica do ecletismo arquitetônico do período.De acordo com os diversos níveis da construção, a fachada apresenta tratamento decorativo diferenciado.
No pavimento conhecido como “porão”, de acabamento simples, é possível observar pequenas janelas retangulares, onde funcionavam as oficinas escolares.
No primeiro e segundo andares a fachada possui janelas em arco pleno, ressaltadas de frisos e sobrevergas acimalhadas, que acompanham a sequência arqueada, completadas por losangos em alto relevo sob os peitoris (no primeiro e terceiro andares e círculos no segundo). O terceiro andar diferencia-se dos demais por apresentar janelas mais largas e vergas retas. Sobre as cismalhas deste pavimento correm platibandas pontudas por pilares modulados.
Nos anos 70,o prédio contava com 60 amplas salas de aula, 3 salas de música, 4 salas de professores, 3 secretarias, 2 gabinetes dentários, 1 gabinete médico,2 pátios abertos, 2 cobertos, 1 auditório, 1 sala nobre conhecida como sala Álvaro Guião, conservada até hoje, porém retiraram todas as poltronas de madeira da época e substituíram por poltronas de tecido, 2 bibliotecas, 4 salas de orientação, além de no porão funcionar a cantina, centro de documentação e depósitos.
No projeto de implantação da linha Leste-Oeste do Metrô, estava prevista a demolição do edifício, tendo como justificativa o alto custo financeiro da obra com a preservação. Ante a iminência de destruição do prédio, em 1975, parte da população, alunos e ex-alunos se organizou e a impediu.
Porém em 1977 todos os alunos foram comunicados que a escola perderia o local que, por 83 anos foi a sede de uma das maiores e importantes instituições do Brasil, pois o então Secretário da Educação da época decidiu que ali seria o local ideal para a instalação da Secretaria da Educação.
Então, no ano de 1978, 4772 alunos ( contando os 3 períodos de aula) foram transferidos para outros 2 prédios, um na antiga Escola Alemã, na Praça Roosevelt, e outra parte para uma escola recém construída na Rua Pires da mota, na Aclimação.
Quando se observa o prédio da Secretaria da Educação hoje, percebe se que nada do mobiliário na época da escola sobrou.
Apesar do prédio ser tombado pelo Patrimônio Histórico, algumas obras foram feitas. Entre elas: a construção de floreiras nos páteos, 2 estacionamentos, a remoção da cantina que virou passagem entre estacionamentos, a inclusão de diversas divisórias de eucatex nas antigas salas de aula, o revestimento de pisos de ladrilho hidráulico por pisos de borracha e até pisos cerâmicos de gosto duvidoso.
Contudo, nem tudo está perdido. Com a entrada do novo Secretário da Educação, algumas atitudes foram tomadas, como uma pesquisa feita por especialistas para a descoberta das cores originais do prédio, além de novas reformas de manutenção programadas. Um pouco de esperança para um importante edifício paulistano.
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